We describe two cases of total albinism in brownthroated three-toed sloths (Bradypus variegatus) captured at the Metropolitan Mesoregion of Recife, Pernambuco State, Brazil.
Introdução
O albinismo é resultado de uma desordem genética onde ocorre um defeito na liberação de pigmentos pelos melanócitos (Alberts et al., 2004). Causado pela homozigoze de alelos recessivos, traduz-se na incapacidade de fabricar melanina, o pigmento responsável pela coloração negra e marrom dos animais, inclusive em humanos (Griffiths et al., 1998).
Walter (1938) afirmou que estes genes recessivos são responsáveis pela intensidade da pigmentação da pele, dos pêlos e olhos. Normalmente os indivíduos com albinismo verdadeiro ou total possuem tegumento sem pigmentação (claro ou branco), pele rosada e olhos vermelhos. Apenas um em cada 20.000 indivíduos pode apresentar alguma forma de albinismo. A anomalia já foi registrada em algumas espécies de peixes, répteis, aves e mamíferos (Uieda, 2000). Segundo Perez-Carpinell et al. (1992) uma grande proporção destes albinos tem fotofobia, nistagmo pendular, estrabismo, astigmatismo e miopia elevados, além de pobre acuidade visual. Em espécimes com albinismo parcial observa-se a pele ou a pelagem com cores claras, não necessariamente brancas, e zonas pigmentadas em outras regiões do corpo (Constantine, 1957; Herreid e Davis, 1960).
O albinismo é classificado em: ocular—quando somente os olhos sofrem despigmentação; parcial — o organismo produz melanina na maior parte do corpo, mas em outras partes isso não ocorre; oculocutâneo — todo corpo é afetado.
Os albinos são mais evidentes aos predadores (Rodrigues et al., 1999). Em condições naturais, mamíferos albinos são selecionados negativamente em função de sua conspicuidade no meio ambiente (Parsons e Bonderup-Nielsen, 1995). A probabilidade de sucesso dos animais albinos na natureza é maior em espécies de hábito críptico ou noturno ou naqueles que apresentam formas eficientes de defesa (Sazima e Pombal, 1986; Sazima e Di Bernardo, 1991).
No Brasil, existem alguns relatos para pequenos roedores (Pessoa e Dos-Reis, 1995; Cademartori e Pacheco, 1999), roedores de médio porte (Veiga, 1994), morcegos (Moreira et al., 1992; Veiga e Oliveira, 1995; Uieda, 2000; Sodré et al., 2004), ungulados (Smielowski, 1979; Rodrigues et al., 1999), primatas (Veiga, 1994) e em preguiça (Manchester e Jorge, 2003).
Objetivou-se com este estudo relatar os primeiros casos de albinismo total em duas preguiças-de-garganta-marrom Bradypus variegatus de vida livre, apreendidas na Mesorregião Metropolitana do Recife, PE.
Descrição dos casos
Este relato trata da observação da ocorrência de dois casos de albinismo total. Uma preguiça foi apreendida no Município de Igarassu (7°50'S, 34°54'W), localizado a aproximadamente 30 km de Recife, no litoral norte da Mesorregião Metropolitana do Recife do Estado de Pernambuco, pela equipe de soldados da Companhia Independente de Policiamento do Meio Ambiente e encaminhada à Estação Ecológica de Caetés, Município do Paulista. A outra foi capturada na zona rural do município de Igarassu. O primeiro tratava-se de um macho jovem (Fig. 1) e o segundo, uma fêmea adulta. A sexagem foi realizada através do exame crítico dos órgãos genitais externos. Os dois animais apresentavam coloração da pele rósea, incluindo a pele do focinho e ao redor dos olhos. Os pêlos eram de cor bege claro por todo o corpo, com exceção da região frontal onde se observou pêlos mais claros, esbranquiçados. No macho observou-se uma ligeira depressão formada por pêlos mais curtos, também despigmentados, na região interescapular, indicativa da presença da mancha dorsal em desenvolvimento. Os olhos apresentavam íris despigmentadas e movimentos involuntários oscilatórios, rítmicos e repetitivos indicativos de nistagmo, conforme descrito por Perez-Carpinell et al. (1992).
Manchester e Jorge (2003) citaram o nascimento de preguiças albinas no Município de Teófilo Otoni, Minas Gerais, em uma população de 25 animais isolados em um parque urbano. Os autores atribuíram o albinismo ao acasalamento endogâmico. Observaram, também, o nascimento de indivíduos com más-formações dos membros e a morte prematura de filhotes. Contudo, os autores não descreveram detalhadamente se tratava de albinismo total ou parcial. No presente estudo, os animais apresentavam todas as características de albinismo total de acordo com a descrição feita por Walter (1938).
A ocorrência de albinismo na natureza é muito rara e, portanto, difícil de ser observada. Parsons e Bonderup-Nielsen (1995) discutiram que em condições naturais, os mamíferos albinos são selecionados negativamente em função de sua susceptibilidade, possível rejeição por parte dos demais da mesma espécie até uma maior probabilidade de ataques. No caso das preguiças que são animais altamente crípticos e de hábitos tanto diurno quanto noturno, além do fato de apresentarem poucos predadores naturais (onças, jibóias e aves de rapina de grande porte), estes animais podem ter maior probabilidade de sobrevivência como comentado por Sazima e Pombal (1986) e Sazima e Di Bernardo (1991).
Após o processo de sexagem, o animal macho foi solto na Estação Ecológica de Caetés e a fêmea, no mesmo local onde foi capturada.
Agradecimentos:
À Agência Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Pernambuco — CPRH por ter permitido a realização deste estudo na Estação Ecológica de Caetés — ESEC-Caetés; à Coordenação da ESEC-Caetés pela receptividade; e à Companhia Independente de Policiamento do Meio Ambiente — CIPOMA pelo apoio.