The presence of Cabassous tatouay in Brazil is well documented in the southern (Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul), southeastern (Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo, Minas Gerais), and midwestern (Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás) regions. There are no records of this species in the north, and limited information exists about its distribution in northeastern Brazil. We report the species from the Atlantic Forest of southern Bahia State, in the Serra Bonita Private Natural Heritage Reserve Complex (CRPPNSB).
O gênero Cabassous McMurtrie, 1831 (Cingulata: Dasypodidae) é caracterizado por possuir cauda sem escudos dérmicos, apresentar escudos cefálicos irregulares, 11 a 14 bandas móveis ao longo da carapaça e patas dianteiras com garras largas e cinco dígitos, sendo os dígitos de número 3, 4 e 5 com unhas falciformes e maiores que os demais (Wetzel, 1980). O gênero abrange quatro espécies (C. chacoensis, C. centralis, C. unicinctus e C. tatouay), ocorrentes do sudeste do México ao norte da Argentina (Wetzel et al., 2007). No Brasil ocorrem C. unicinctus Linnaeus, 1758 e C. tatouay (Fonseca et al., 1996; Paglia et al., 2012), sendo que o único registro de C. chacoensis (MACN 4388) existente para o país revelou-se ser um espécime de C. unicinctus mal identificado (Abba & Vizcaíno, 2008).
Cabassous tatouay é a maior espécie do gênero (Wetzel, 1980), sendo similar à C. unicinctus, diferenciando-se externamente deste pelo tamanho corpóreo, por apresentar a borda da orelha granulada e menos de 50 escudos cefálicos, dispostos simetricamente na região frontal da cabeça.
No Brasil, as espécies do gênero encontram-se amplamente distribuídas, sendo que C. tatouay é relatado para os estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul (Wetzel, 1980; Mikich & Bérnils, 2004; Abba & Superina, 2010) ocorrendo nos biomas Pampas, Pantanal, Cerrado e Mata Atlântica (Fonseca et al., 1996; Paglia et al., 2012), com maior probabilidade de ocorrência nos últimos dois biomas citados (Anacleto et al., 2006).
Aguiar (2004) relata que a espécie também pode ser encontrada no estado da Bahia. O registro mais recente de C. tatouay para a Bahia ocorreu na Chapada Diamantina (Pereira & Geise, 2009), no centro de estado, que está inserida no contexto do bioma Caatinga, mas apresenta remanescentes de Cerrado e Mata Atlântica (Juncá et al., 2005). Apesar de potencialmente ocorrer em uma grande área do território brasileiro, a distribuição estimada de C. tatouay não é precisa, uma vez que boa parte dos registros existentes é inconsistente ou estão acumulados em uma única região (Anacleto et al., 2006).
Visando contribuir para o conhecimento acerca da distribuição da espécie o objetivo deste trabalho é apresentar a ocorrência do tatu-de-rabo-mole grande (C. tatouay) em uma nova localidade, no bioma Mata Atlântica, ao sul da Bahia, Brasil.
O estudo foi desenvolvido no Complexo de Reservas Particulares do Patrimônio Natural Serra Bonita (CRPPNSB), localizado nos municípios de Camacan e Pau-Brasil, ao sul do estado da Bahia, Brasil ( Fig. 1). É uma área de Mata Atlântica que protege fragmentos de Floresta Ombrófila Densa Montana, em diferentes estágios de sucessão, com altitudes entre 200 e 950 msnm. A vegetação se divide em duas fitofisionomias principais: Sub-Montana (abaixo de 700 msnm) e Baixo-Montana (acima de 700 msnm) (Amorim et al., 2009).
Entre novembro de 2010 e novembro de 2012 (24 meses) foi realizado um monitoramento de mamíferos terrestres utilizando 19 armadilhas fotográficas analógicas (Tigrinus 6.0C, versão 1.0, Tigrinus Equipamentos para Pesquisa, Timbó, Brasil) em quatro áreas dentro do CRPPNSB: Serra Bonita I (15°25′19,6″S, 39°32′13,0″W), Serra Bonita III (15°22′38,0″S, 39°35′26,7″W), Fazenda Uiraçu (15°23′30,6″S, 39°33′53,0″W) e Fazenda Maria Augusta (15°25′14,5″S, 39°34′53,8″W). Foi realizado um esforço amostral total de 13.870 armadilhas-noite.
Adicionalmente foi utilizado o registro fotográfico de um individuo juvenil de C. tatouay capturado em armadilhas de interceptação-e-queda (baldes de 100 L), durante um monitoramento da herpetofauna do CRPPNSB entre 2009 e 2010. Por último, foi revisado um espécime depositado na Coleção de Mamíferos “Alexandre Rodrigues Ferreira” (CMARF) da Universidade Estadual de Santa Cruz — UESC, sob o número CMARF 0456, proveniente da área de estudo. As medidas do crânio foram tomadas com paquímetro (±0,1 mm) e seguem Wetzel (1980). O local com os novos registros de C. tatouay foi inserido sobre o mapa de distribuição da espécie proposto pela IUCN (Abba & Superina, 2010).
Durante o monitoramento com armadilhas fotográficas for am registrados Cabassous em 12 oportunidades, nas quatro áreas estudadas do Complexo de Reservas Particulares do Patrimônio Natural Serra Bonita ( Fig. 2A) e, em sete delas (58,3%), foi possível confirmar que os animais pertenciam à espécie C. tatouay. Os registros foram obtidos nos meses de dezembro de 2010 e janeiro, maio, julho, agosto e dezembro de 2011, em horários que variaram de 18:36 até 03:47 hs, em altitudes que variam de 203 a 935 msnm.
As imagens do individuo capturado na armadilha de interceptação-e-queda permitiram uma melhor observação dos caracteres diagnósticos para a espécie (Fig. 2B), ficando evidentes características peculiares como borda granulada das orelhas, o número e a disposição dos escudos cefálicos.
O exemplar depositado na Coleção de Mamíferos Alexandre Rodrigues Ferreira (CMARF) da Universidade Estadual de Santa Cruz corresponde a crânio e esqueleto de um indivíduo adulto (Fig. 2C). O crânio apresenta as seguintes medidas: Comprimento côndilo-nasal 98,0 mm, comprimento rostral 53,5 mm, comprimento palatal 57,2 mm, comprimento pré-rostral 49,2 mm, largura palatal 14,0 mm, comprimento interlacrimal 42,1 mm, largura interorbital 32,1 mm, largura zigomática 54 mm e altura cranial 42 mm. Todas as medidas são maiores que as reportadas para C. unicinctus e compatíveis com C. tatouay (Wetzel, 1980, 1985).
Os registros da espécie no Complexo de RPPNs Serra Bonita estão ás margens da distribuição atual proposta pela IUCN para a espécie (Abba & Superina, 2010; Fig. 1 ) e permitem confirmar a sua presença na Mata Atlântica do sul da Bahia, sendo o ponto de distribuição mais setentrional descrito no bioma.
Moura (2003) registrou C. unicinctus para a região sul da Bahia, através de entrevistas. Esta espécie também foi registrada por Schiavetti et al. (2007) no Plano de Manejo da Reserva Particular do Patrimônio Natural Estação Veracel (município de Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália), apenas com dados secundários e por Falcão et al. (2012), por meio de entrevistas e armadilhas fotográficas.
Porém, devido ao fato que as espécies de Cabassous brasileiras apresentam alta semelhança morfológica (Wetzel, 1980), erros de identificação podem ser comuns quando não se conta com registros que proporcionem a identificação precisa dos animais. No Brasil, as duas espécies são popularmente conhecidas como tatu-de-rabo-mole, o que dificulta a separação entre as duas caso o meio de obtenção de dados tenha sido por entrevista. Recomenda-se aos pesquisadores que procedam uma análise mais criteriosa do material antes de registrarem a espécie e, havendo necessidade, procurar ajuda de especialistas no grupo taxonômico, visando evitar identificações incorretas.
Devido ás características e os hábitos desta espécie, espera-se que seja encontrada em outras localidades da Mata Atlântica dentro do estado da Bahia e não apenas na área referida no presente estudo, visto que há probabilidade de ocorrência em outros locais da Mata Atlântica nordestina, baseado em sua distribuição potencial (Anacleto et al., 2006). O desenvolvimento de novas pesquisas na região, assim como uma correta identificação (levando em consideração suas semelhanças com C. unicinctus), serão necessárias para avaliar a presença da espécie em outras regiões do estado, assim como o aporte de novos conhecimentos na história natural da espécie, aplicáveis a ações de manejo e conservação.
Agradecimentos
Agradecemos ao Dr. Vitor O. Becker e a Dona Clemira O. Souza pela criação e conservação do CRPPNSB. Também expressamos nossa gratidão ao Dr. Fernando Botelho, ao Instituto Uiraçu e a toda equipe de guarda-parques da Reserva pelo constante apoio brindado. As fotos do espécime capturado em armadilhas de interceptação-e-queda foram cedidas por Iuri Ribeiro Dias. Agradecemos à Fundação O Boticário de Proteção à Natureza (Projeto N° 0818– 20091), CNPq e UESC pelo financiamento de nossas pesquisas, e à FAPESB (CSL e FVG) e CAPES (PHPR) pela concessão de bolsas de estudo e ao PPG em Zoologia — UESC e a dois revisores anônimos que ajudaram a melhorar o manuscrito.